sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Whoring Life


Quando esta série realizada por R.W. Fassbinder passou na televisão (1979/80) eu não tinha idade e muito menos maturidade para a ver e apreciar. Uns anos mais tarde quando soube que ia passar na Cinemateca fiz por lá ir e fui, na esperança de poder aproveitar melhor o festim de imagens. Comigo levava o número 100 da Ficção Universal da Dom Quixote “Berlim Alexanderplatz”, precisamente a obra homónima na qual o realizador se baseou e que foi escrita por Afred Döblin; livro que me acompanhou desde a primeira sessão e que iria estar comigo durante todos os 393 minutos de duração da série. O fatídico dia foi a 6 de Abril de 2004, as cadeiras, da ainda por remodelar Cinemateca, eram brancas, enormes e eu afundei-me nelas nos dois dias seguintes e mais tarde para a apoteose, no dia 13, quando foi apresentado o impressionante epílogo, este último episódio que funciona como um filme dentro do filme, um delírio do realizador sob a forma de uma alucinação sofrida por Franz Biberkopf, o (anti) herói da obra literária e da película. Ter lido o livro ao mesmo tempo que via a série foi uma revelação porque nunca antes tinha tido acesso a apreciar um trabalho tão perfeito de adaptação e confirmar que é possível retratar de um modo muito fiel o universo literário de um escritor sem desvirtuar em nada o trabalho do realizador e vice-versa; as imagens eram tão próximas das que tinha imaginado durante a minha leitura que os dois objectos ficarão em mim para sempre associados e fazem parte de um único organismo vivo, feito de papel e celulóide. Desde essa data não voltei a rever a série, ou a ler o livro, mas ainda guardo presente esse momento memorável que agora vou poder reviver graças à esta nova edição em DVD. Esta é uma versão digitalizada que inclui alguns extras e cuja restauração da película original, de 16 mm, se encontra envolta nalguma controvérsia. Tenho encontro marcado com o Franz à saída da prisão que dá para a Alexanderplatz e sei que não vou estar sozinho.



Só para os cépticos.

Sem comentários: