terça-feira, 17 de setembro de 2013

Não há como deixar de venerar um Hostal em Bilbao onde existe uma biblioteca no corredor com 
livros desta qualidade:





Podia documentar todas as prateleiras e não deixaria envergonhado o mais exigente bibliófilo.  

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

(Middle Class) America Goes To Prison

Orange is the new black é a nova série sensação, dos criadores de Weeds, e que se encontra à altura do alarido que se gerou à sua volta.
A minha curiosidade foi aguçada primeiro por uma música da Regina Spektor, You’ ve got time, composta propositadamente para acompanhar o genérico da série, depois resolvi ver um episódio e não consegui ficar pelo primeiro acabando por, compulsivamente, visionar os doze seguintes que completam a 1.ª série.

A história central diz respeito a uma WASP, menos Yuppie e mais Organic, que vai parar à prisão quase na véspera do seu casamento com um jornalista judeu americano, Larry Bloom (Jason Biggs), que formam um núcleo quase cliché do que é o retrato da América mais sofisticada e pensante. Apesar de a série poder ser acusada se usar e abusar dos clichés sociais americanos, onde podemos incluir os negros, os hispânicos e outros grupos de emigrantes, consegue sempre ir mais além não se deixando acomodar pelo que seria óbvio e expectável.


A branca e loirinha Piper Chapman (Taylor Schilling) vai então parar à prisão de Leitchfiled, no estado de Nova York, condenada por um crime cometido há uns anos quando se viu envolvida, através da namorada da altura Alex Vause (Laura Prepon), numa rede de tráfico de droga. Não é minha intensão resumir aqui os 13 episódios mas apenas alertar para o facto de que vale muito a pena ver esta série, que escapa à classificação espartilhada da comédia ou drama, embora de acordo com as possíveis nomeações para os Emmy, a série tendesse a ser classificada mais como comédia. A série foi, no entanto, ignorada nas nomeações deste ano mas isso poderá estar relacionado com o facto de ser uma produção toda feita a pensar nos utilizadores da Netflix, cujo impacto ainda se está a fazer sentir no mercado audiovisual, embora isso não seja verdade para a série House of Cards.


Controvérsias e nomeações à parte fica a certeza de que, apesar de algumas fragilidades dramáticas principalmente associadas às personagens masculinas, vale a pena investir numa série que cita Pablo Neruda, coloca personagens a dramatizar Shakespeare, refere os The Smiths, aflora o tema de Moby Dick, onde um(a) inmate ouve a ópera Eugene Onegin ou outro se refere a Christopher Hitchens. O resto?  Vejam e tirem as vossas conclusões.

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

You could call it black music, but why do we have to narrow talent to such a small box?


Livestream here só para confirmar a mestria desta senhora, isto para quem ainda tivesse dúvidas. 
Um excelente conjunto de músicas que foge à categorização fácil, de profundas raízes na soul é certo, mas só essa etiqueta não serve, aqui apenas se fixa aquela que diz "talento puro".

segunda-feira, 2 de setembro de 2013



Importância Material



“Stuff matters” de Mark Miodwnik director do “Institute of Making” do University College London (UCL) constitui um excelente exemplo do que poderá ser uma leitura estimulante sobre um tema tão pertinente como a constituição da matéria e dos materiais que nos rodeiam. 

A estratégia usada pelo autor para cativar o leitor é antiga mas muito eficiente, o livro começa por nos descrever um momento de perigo no qual o autor se viu envolvido quando ainda era adolescente. Ao relatar uma tentativa de assalto de que foi alvo e a consequente facada que sofreu, o autor não nos faz perder tempo com atitudes de auto comiseração mas transporta-nos logo de seguida para o que verdadeiramente o fascina, a lâmina que lhe perfurou o corpo. 

Assim ao apresentar-nos um episódio cheio de adrenalina prende-nos a atenção e ao mesmo tempo foca o nosso interesse não no óbvio, mas naquilo que estando tão presente no nosso dia-a-dia, quase que passa despercebido. Começa pela lâmina, mas isso é mais um pretexto para referir a importância que os metais têm na nossa vida, no nosso passado e presente. Divide os capítulos seguintes do livro de modo a fazer a introdução de alguns materiais que nos são muito familiares, tais como o papel e as várias formas que pode tomar, o cimento alertando para as raízes romanas da sua descoberta até à mais recente possibilidade da existência de um tipo de cimento que se cura a si próprio através da introdução de uma bactéria na sua composição. 
Há ainda espaço para o chocolate e a importância do tipo de cristais que formam esta deliciosa mistura que liberta cerca de 600 moléculas exóticas que assaltam a nossa boca e nariz. Depois temos o material mais leve do mundo, um aorogel de sílica cuja composição é de 99,8 % de ar, mas que é capaz de proteger uma delicada flor do calor se colocado entre a chama e a flor, e que já foi até ao espaço para tornar possível estudar, in loco, os detritos que resultam da combustão dos cometas que percorrem o nosso sistema solar. 
O omnipresente plástico que ainda é tão mal visto na nossa sociedade mas sem o qual a industria do cinema, celuloide, não poderia ter singrado ou ainda o vinil, tão na moda  outra vez, e que nos permite ouvir a música que nos é tão essencial, as nossas roupas algumas à base de licra e o silicone, que há quem use mais por debaixo das roupas. 
Temos ainda o vidro que apesar de tecnologicamente ter sido ultrapassado por outros materiais mais recentes continua a usufruir de um glamour que o mantém à nossa mesa e de onde nós continuamos a gostar de beber sofisticados vinhos de reserva. Num dos capítulos é-nos ainda apresentada a coqueluche do mundo material, o grafeno, parente muito próximo do diamante e do bico do vulgar lápis, na realidade é composto pelos mesmo átomos de carbono que estas duas substâncias. As revolucionárias  propriedades do grafeno vão ter impacto na electrónica, nos carros, nos aviões do futuro. O livro termina com um material delicado, a porcelana, e finalmente ilustra a importância dos biomateriais, tais como o biovidro, que permite, por exemplo, a reconstrução de ossos faciais e que funciona como uma espécie de andaime no qual se desenvolve a estrutura biológica que depois de formada pode abandonar essa “casca”. Outros materiais deste tipo poderão ser de importância vital para revolucionar a medicina num futuro não muito distante.

O livro apresenta uma linguagem muito acessível e qualquer leitor com uma formação científica básica estará apto a entender a importância que os materiais sempre possuíram desde os primórdios da humanidade, tendo mesmo sido responsáveis por revoluções tecnológicas que deram grande vantagem militar e económica às sociedades que os foram dominando ao longo do tempo. Basta relembrar que o tempo histórico pode ser dividido em momentos tais como a Idade da Pedra, a Idade do Ferro ou a Idade do Aço.
Agora só falta que alguém se interesse pela tradução e que muito em breve este livro apareça nas nossa livrarias traduzido em português, de preferência com uma capa melhor do que a do original.