sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Another Kind of Diva

Na passada terça-feira fui revisitar outra cidade, desta vez humana, o Rufus Wainwright, e, como sempre tem acontecido, saí de lá convertido ao sublime da música e voz de alguém que podendo não ser o Mozart ou o Mendelssohn dos tempos modernos, como ele jocosamente sugeriu, não pode escapar à marca da palavra génio por ser alguém verdadeiramente original e único. Talvez por isso mesmo também provoque paixões e ódios viscerais. Sobre o concerto só me podem sair palavras de elogio sempre frouxas para dizer o que realmente foi o espectáculo. Houve de tudo desde os momentos de extrovertida comunhão geral a outros mais íntimos em que nos sentámos ao piano com ele a mastigar palavra a palavra, sentindo junto à pele o fantasma agridoce que assombra as letras que sustentam estas canções inesquecíveis. Ainda houve tempo para uma pequena homenagem a Judy Garland com um piscar de olhos ao comércio natalício, altura em que há-de ser lançado um dvd e cd com o espectáculo de homenagem que Rufus fez a esta Diva, também gay, não porque o fosse mas porque canta o hino da nação gay, “Somewhere Over The Rainbow”, que Rufus interpretou com a mãe Kate ao piano.



No final também houve uma espécie de homenagem à filha da mãe, Lisa Minelli, quando ele nos presenteou com umas canções ao melhor estilo de Cabaret, descobrindo-se vestido também a rigor como uma showgirl, dançando uma coreografia num playback da sua própria voz, acompanhado pelos músicos agora libertos dos instrumentos e presos ao magnetismo sinuoso de Rufus-Minelli-Marilyn, coreografia assumidamente exagerada e de pura diversão. Mas até aí se podiam ver sombras, a alegria gay tem destas coisas, nunca é pura e sempre contaminada por linhas negras que se alimentam da luz. Desconfio que ele há-de voltar sempre à nossa cidade, que diz ser a mais bonita da Europa, à procura do espírito musical que possuiu Callas durante a famosa “Lisbon Traviata” gravada faz para o ano exactamente meio século. Que essa busca nunca pare e que ele volte sempre.

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