O
quarto livro foi The Unicorn de Iris Murdoch e aqui está uma escritora que se
encontra condenada a não me desiludir. Não lhe posso adjetivar a escrita com
elogios suficientes, é daquele tipo de escritor que nos faz desejar escrever
como ela. A densidade literária é perfeita, o balanço entre o desenvolvimento
dram A partir desse momento sabemos que está para
acontecer algo que vai transformar esta personagem para sempre, e de tal modo
que a determinada altura do romance temos que abandonar o seu olhar e
focarmo-nos no de outras personagens, nunca com grande sucesso porque as
sombras e os contornos poucos nítidos que crescem à nossa volta são demasiado
voláteis e misteriosos para poderem ser apanágio de uma só criatura. Ficamos
com Marian o tempo suficiente para nos apercebermos do abismo que a rodeia, um
abismo sob a forma de uma mulher que é também a dona da casa, uma beleza
aristocrática decadente que, suspeitamos, se mantém viva através de whisky e
que quase nunca sai do seu castelo. Ali por perto assombra-nos o mar que Marian
cedo percebe ser tão indomável como a força que a vai puxando para o centro do
mistério que é aquela mulher e de tudo a que a envolve. Mais de metade do livro
lê-se quase ao ritmo de um romance policial e depois a espiral de
acontecimentos, aqueles que verdadeiramente têm velocidade e impacto, parece
que surgem para desacelerar a estória tornando-a mais pesada e difícil de
suportar. Há apenas um senão um momento desnecessário em que Iris Murdoch
decide educar o leitor através de uma lição pífia de filosofia por via de um
diálogo, ao estilo platónico, entre uma das personagens principais e uma outra
secundária, e que não acrescenta nada ao livro. As lições de filosofia já lá
estavam antes deste formalismo que, no entanto, se esquece rapidamente por
estarmos perante uma escritora tão talentosa. Se tivesse que resumir este livro
diria, como uma das personagens o sugere, que é uma versão adulta de um conto de fadas bem
conhecido, a bela adormecida, mas com um final muito trágico e infeliz.
ático do
romance e o ritmo de introdução das personagens não pode estar mais afinado, e este
livro é um exemplo acabado disso mesmo. Marian Taylor, os olhos através de quem
nos é introduzida a estória, aceita um lugar de perceptora num castelo situado
num lugar distante, na costa inglesa, e o livro começa com a sua chegada a uma
desolada paragem de comboio no meio de nada. sábado, 9 de maio de 2015
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