sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Literatura Heavy




Cá pelo burgo não há muita tradição do ensaio crítico ou da crítica profunda e suportada num enciclopédico conhecimento do mundo literário e não só. Um tipo de crítica que deve pouco à erudição académica porque deriva, quase sempre, de um espírito demasiado rebelde e inquisidor.  Os anglo-saxónicos possuem muitos ilustres exemplos deste tipo de crítica e neste livro do Rogério Casanova – Trabalhos de casa 2008-2012) é-lhes prestada a devida homenagem, quer seja nomeando-os (James Wood, Gore Vidal ou V.S. Pritchett) quer seja usurpando o seu estilo.  A escrita copy-cat pode ser muito interessante, ainda me lembro das críticas da Inês Pedrosa no JL em que ela fazia a crítica ao estilo do autor criticado, do melhor que ela escreveu até à data.

No caso do Rogério Casanova há mais cat que copy porque é uma escrita sly, felina e na maioria da vezes muito certeira e espirituosa, witty para o ingleses. Eu confesso-me um entusiasta leitor das críticas, ou textos literários, do Casanova, quase desde quando ele apareceu, e devo ter tido muita sorte porque só li textos inspirados e inspiradores, bem escritos e de um fino verniz irónico e intelectual muito ao meu gosto. Por essa razão quando me apercebi da saída deste livro fui logo a correr comprá-lo na esperança de me deleitar nas leituras repetidas e nas outras que sabia ter perdido. O livro acabou por estar à altura das minhas expectativas e para mim a única “desilusão” foi o capítulo dedicado aos enciclopedistas (Pynchon e David Foster Wallace) os quais não tenho paciência para ler e muito menos para para ler sobre as suas leituras. De resto lá estava o Casanova das crónicas, ou ensaios, que lido assim de seguida é mais desmontável no sentido estrutural do termo, mas que apesar disso não deixa de nos dar prazer e ser uma lição viva sobre o que é escrever bem sobre livros e literatura. Como ele há poucos “críticos” no ativo, eu arriscava mesmo a dizer nenhum, e na minha humilde opinião deveria haver mais. Não sei se ele é “amigo” do Francisco José Viegas porque é na Ler que ele escreve mais regularmente mas o certo é que até isso passa a ser secundário perante o talento literário desde jovem ensaísta nascido em 1980 e sobre o qual se sabe quase tanto como sobre o Herberto Hélder.

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