Cá pelo burgo não há muita tradição do ensaio crítico ou da
crítica profunda e suportada num enciclopédico conhecimento do mundo literário
e não só. Um tipo de crítica que deve pouco à erudição académica porque deriva,
quase sempre, de um espírito demasiado rebelde e inquisidor. Os anglo-saxónicos possuem muitos ilustres
exemplos deste tipo de crítica e neste livro do Rogério Casanova – Trabalhos de
casa 2008-2012) é-lhes prestada a devida homenagem, quer seja nomeando-os
(James Wood, Gore Vidal ou V.S. Pritchett) quer seja usurpando o seu
estilo. A escrita copy-cat pode ser
muito interessante, ainda me lembro das críticas da Inês Pedrosa no JL em que
ela fazia a crítica ao estilo do autor criticado, do melhor que ela escreveu
até à data.
No caso do Rogério Casanova há mais cat que copy porque é uma
escrita sly, felina e na maioria da vezes muito certeira e espirituosa, witty
para o ingleses. Eu confesso-me um entusiasta leitor das críticas, ou textos
literários, do Casanova, quase desde quando ele apareceu, e devo ter tido muita
sorte porque só li textos inspirados e inspiradores, bem escritos e de um fino
verniz irónico e intelectual muito ao meu gosto. Por essa razão quando me
apercebi da saída deste livro fui logo a correr comprá-lo na esperança de me
deleitar nas leituras repetidas e nas outras que sabia ter perdido. O livro
acabou por estar à altura das minhas expectativas e para mim a única “desilusão”
foi o capítulo dedicado aos enciclopedistas (Pynchon e David Foster Wallace) os
quais não tenho paciência para ler e muito menos para para ler sobre as suas
leituras. De resto lá estava o Casanova das crónicas, ou ensaios, que lido
assim de seguida é mais desmontável no sentido estrutural do termo, mas que
apesar disso não deixa de nos dar prazer e ser uma lição viva sobre o que é
escrever bem sobre livros e literatura. Como ele há poucos “críticos” no ativo,
eu arriscava mesmo a dizer nenhum, e na minha humilde opinião deveria haver
mais. Não sei se ele é “amigo” do Francisco José Viegas porque é na Ler que ele
escreve mais regularmente mas o certo é que até isso passa a ser secundário
perante o talento literário desde jovem ensaísta nascido em 1980 e sobre o qual
se sabe quase tanto como sobre o Herberto Hélder.
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