quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

The Meaning Of Life


Existem filmes que se encontram limitados pelas suas próprias ambições como acontece com a última película realizada por Sean Penn, Into the wild, na qual se conta a estória da procura, por um indivíduo, daquilo que se imagina relevante para o ser humano. No entanto o modo como o realizador conta esta estória sofre dos limites inerentes à cultura onde se insere e se por um lado assumir esse facto poderia trazer mais peso à mensagem associada ao filme, a sua tentativa de escamoteação só serve para o enfraquecer. Existe o risco, redutor, de sermos levados a pensar que Christopher McCandless (Emile Hirsch) no fundo só está à procura de uma nova família para substituir aquela que abandonou, e com a qual viveu as, infelizmente cada vez mais comuns, experiências traumáticas do divorcio, neste caso condimentado com cenas de violência doméstica, traição e algum estigma social. Revelam-se assim as hipocrisias que emanam do tecido social perante as quais todos nós somos obrigados a nos vergar quando entramos na realidade que nos é dada viver. Christopher decide rejeitar essa aceitação passiva e parte numa aventura que é também uma busca da sua verdadeira essência como ser humano, e se o filme ficasse só por aí seria um objecto muito eficiente de reflexão social. Tal não acontece e na presença de uma moralidade bacoca a mensagem perde força. A começar pelo facto de não se encontrar plenamente justificado o porquê da necessidade de reforçar a ideia de ele ser um aluno exemplar, só ter notas altas em trabalhos em que disserta sobre assuntos pertinentes e para além disso ler e citar autores russos; estes factos são de algum modo usados para credibilizar o gesto radical da personagem, gesto esse que talvez, para algumas pessoas, perdesse algum impacto se nos deixasse espaço para pensar que ele afinal não seria mais do que mais um vagabundo que decide viver à margem da sociedade. No entanto essa tentativa de manipulação nada acrescenta à verdade da estória. Depois também existe a ideia inerente à sua pureza sexual, bondade, ao martírio e sofrimento, veículos no sentido da santificação que geralmente culmina num final trágico, como acontece em quase todas as biografias dos santos mártires cristãos. Infelizmente essa colagem ao mito cristão faz perder o impacto universal da mensagem, enfraquecendo-a.
Claro que na sua essência a mensagem sobrevive e é-nos dado ver um belo filme que servirá sempre como indutor de uma reflexão profunda sobre a nossa relação com aquilo que nos rodeia e sobre o que é realmente importante para nós como seres humanos.
O filme é baseado num livro homónimo escrito por Jon Krakauer, sendo a adaptação ao cinema feita pelo próprio Sean Penn.

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