Importância
Material
“Stuff matters” de
Mark Miodwnik
director do “
Institute of Making” do University College London (UCL) constitui
um excelente exemplo do que poderá ser uma leitura estimulante sobre um tema
tão pertinente como a constituição da matéria e dos materiais que nos rodeiam.
A
estratégia usada pelo autor para cativar o leitor é antiga mas muito eficiente, o livro começa por nos descrever um
momento de perigo no qual o autor se viu envolvido quando ainda era
adolescente. Ao relatar uma tentativa de assalto de que foi alvo e a
consequente facada que sofreu, o autor não nos faz perder tempo com atitudes de
auto comiseração mas transporta-nos logo de seguida para o que verdadeiramente
o fascina, a lâmina que lhe perfurou o corpo.
Assim ao apresentar-nos um
episódio cheio de adrenalina prende-nos a atenção e ao mesmo tempo foca o nosso
interesse não no óbvio, mas naquilo que estando tão presente no nosso
dia-a-dia, quase que passa despercebido. Começa pela lâmina, mas isso é mais um
pretexto para referir a importância que os metais têm na nossa vida, no nosso
passado e presente. Divide os capítulos seguintes do livro de modo a fazer a
introdução de alguns materiais que nos são muito familiares, tais como o papel
e as várias formas que pode tomar, o cimento alertando para as raízes romanas
da sua descoberta até à mais recente possibilidade da existência de um tipo de
cimento que se cura a si próprio através da introdução de uma bactéria na sua
composição.
Há ainda espaço para o chocolate e a importância do tipo de
cristais que formam esta deliciosa mistura que liberta cerca de 600 moléculas
exóticas que assaltam a nossa boca e nariz. Depois temos o material mais leve
do mundo, um aorogel de sílica cuja composição é de 99,8 % de ar, mas que é
capaz de proteger uma delicada flor do calor se colocado entre a chama e a
flor, e que já foi até ao espaço para tornar possível estudar, in loco, os
detritos que resultam da combustão dos cometas que percorrem o nosso sistema
solar.
O omnipresente plástico que ainda é tão mal visto na nossa sociedade mas
sem o qual a industria do cinema, celuloide, não poderia ter singrado ou ainda o
vinil, tão na moda outra vez, e que nos
permite ouvir a música que nos é tão essencial, as nossas roupas algumas à base
de licra e o silicone, que há quem use mais por debaixo das roupas.
Temos ainda
o vidro que apesar de tecnologicamente ter sido ultrapassado por outros
materiais mais recentes continua a usufruir de um glamour que o mantém à nossa
mesa e de onde nós continuamos a gostar de beber sofisticados vinhos de
reserva. Num dos capítulos é-nos ainda apresentada a coqueluche do mundo
material, o grafeno, parente muito próximo do diamante e do bico do vulgar lápis,
na realidade é composto pelos mesmo átomos de carbono que estas duas substâncias.
As revolucionárias propriedades do
grafeno vão ter impacto na electrónica, nos carros, nos aviões do futuro. O
livro termina com um material delicado, a porcelana, e finalmente ilustra a
importância dos biomateriais, tais como o biovidro, que permite, por exemplo, a
reconstrução de ossos faciais e que funciona como uma espécie de andaime no qual
se desenvolve a estrutura biológica que depois de formada pode abandonar essa
“casca”. Outros materiais deste tipo poderão ser de importância vital para
revolucionar a medicina num futuro não muito distante.
O livro apresenta uma linguagem
muito acessível e qualquer leitor com uma formação científica básica estará
apto a entender a importância que os materiais sempre possuíram desde os primórdios
da humanidade, tendo mesmo sido responsáveis por revoluções tecnológicas que
deram grande vantagem militar e económica às sociedades que os foram dominando
ao longo do tempo. Basta relembrar que o tempo histórico pode ser dividido em
momentos tais como a Idade da Pedra, a Idade do Ferro ou a Idade do Aço.
Agora só falta que alguém se interesse
pela tradução e que muito em breve este livro apareça nas nossa livrarias
traduzido em português, de preferência com uma capa melhor do que
a do original.