quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Jornal de Tretas


O JL fez 1000 números e eu um pouco por nostalgia misturada com curiosidade lá fui até ao Sr. Zé, ou melhor o meu pai foi por mim, e trouxe-o com brinde de livro de poemas editados pela Leya, a editora mais glutona de que há memória em Portugal.
O jornal vinha húmido, não de prazer mas, porque hoje está um daqueles dias de chuva constante e de vento irrequieto que não poupa nem os jornais de banca embrulhados em plástico transparente; este número 1000 é auto-celebratório, auto-masturbatório, auto-reflectivo, auto-tudo-e-mais-alguma-coisa dessas coisas que servem para nos celebrar perante os outros mesmo quando, como é o caso, já há muito deixou de haver qualquer motivo de celebração.
Cada vez mais este pasquim representa um jornalismo cultural medíocre que se tenta justificar através de nomes sonantes, e defuntos, que nele, em tempos idos, escreveram. Se nos anos 80 e parte dos noventa ainda se tolerava este amadorismo intelectual que se sustenta no facto de todos os jornalistas saberem muito bem distinguir o substantivo do adjectivo e de como introduzir bem o verbo na frase, nos dias que correm isso é obviamente insuficiente. Se descontarmos os textos, repetidos, dos mais conceituados colaboradores sobra-nos uma meia dúzia de críticas a filmes, livros e cd’s que têm em comum o facto de terem sido escritos só para serem lidos pelos seus autores ou para impressionar mal a vizinha do lado, porque aos outros ajudam a acrescentar muito pouco.
O JL surgiu no pós 25 de Abril e de original sempre teve pouco porque já havia, antes da revolução de Abril, uma secção no DN, coordenada pela Natércia Freire, precisamente sobre os mesmos temas e onde houve espaço para publicação de autores das mais variadas sensibilidades estéticas e políticas. Foi lá que muitos dos mais importantes nomes da literatura portuguesa do século XX começaram a publicar, tendo esse suplemento sido saneado com a preciosa ajuda do eterno director do JL, quando os revolucionários ocuparam a sede do DN. O tempo entretanto tem servido para demonstrar que esses supostos revolucionários sempre foram mais reaccionários, criadores de um ser obeso e sedentário que se suspeita esteja há muito numa cama de Hospital em coma profundo e a um passo da morte cerebral.
Desde esses idos anos 80 que nada mudou, mas também pouco poderia, porque a miopia nessa altura ainda estava na moda e usavam-se óculos de lentes grossas para impor austeridade e credibilidade a umas páginas que muitas vezes ficavam aquém dos jornais universitários, dos anos 60, que eu suspeito serem a matriz de referência dos seus editores. Mas sem a irreverência, sensibilidade, maturidade e visão que se esperava de uma publicação que devia estar na vanguarda do conhecimento literário, musical e cientifico. E tudo continua na mesma e nem a colaboração de alguns nomes interessantes da nova literatura portuguesa chegam para revitalizar este corpo comatoso porque os órgãos vitais estão condenados por células que perderam há muito a capacidade de regeneração, eu até desconfio que nunca a tiveram.

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