quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

His Life Within


Edmund White é um escritor que atingiu a maioridade literária tarde no tempo e que escreve a sua obra maior inspirado pela sua experiência de vida, e por isso poderá ser considerado como a ponte perfeita entre o romance do século XIX e o do século XXI e cuja morte entretanto foi anunciada no século XX.
“My Lifes” acerta em tudo, possui o tom, a profundidade, a ironia e o distanciamento certos entre o objecto revisitado, que é a vida do autor, e a sinceridade que até pode ser ficcionada mas que se lê sempre como genuína. Já se podia prever que a sua escrita iria ganhar com este tipo de intimidade pois a biografia sobre Jean Genet, escrita por ele há uns anos, já se encontrava espartilhada por essa sobriedade, a qual não se vislumbra nos seus outros livros, quer sejam os romances ou as mini biografias sobre Proust ou Rimbaud, não esquecendo “Le Flaneur”, pequeno livro sobre a cidade de Paris. Aquilo que fazia diminuir os seus livros, estreiteza de pensamento, obsessão pelo universo “gay” e sua potencial marginalidade, nesta autobiografia deixa de ser relevante porque assume a sua verdadeira dimensão, não distorcida pelo hastear de bandeiras pessoais ou colectivas que mal usadas servem apenas para cobrir os buracos ou remendos de uma história mal contada. Nesta autobiografia pouco fica por dizer e embora o próprio autor assuma que muitas vezes esteja a dar demasiada informação, felizmente essa lucidez não o impede de continuar e essa persistência que noutras circunstâncias poderia ser a sua maior fraqueza acaba por ser o factor que mais enriquece o livro; neste caso a verdade acaba por nos conquistar e saímos todos a ganhar, se bem que por vezes seja uma vitória que nos poderá deixar uma sensação de sujidade, mas como se está a ler uma vida até agora não se sabe de nenhuma que seja totalmente cristalina e sem opacidade ou manchas.

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