quinta-feira, 11 de setembro de 2008

A Torre de La Défense


Peça de teatro em dois actos sobre uma passagem de ano em Paris na qual se reúnem alguns elementos marginais da sociedade convencional, um travesti, um casal homossexual, uma senhora burguesa viciada em ácido e um árabe, isto na primeira parte da peça; na segunda parte estas personagens vão-se fazer acompanhar por um americano e um cadáver.
A peça foi escrita por Copi (1939-1987) um autor argentino que viveu e morreu em Paris, este dramaturgo era um criador plástico e isso reflecte-se na apresentação do espectáculo que, especialmente na segunda parte, toma a forma de uma instalação artística que tem como acompanhamento sonoro a leitura do texto por parte dos actores, os quais se encontram fisicamente presentes, mas imóveis, e deitados como cadáveres anunciados de uma morte que pode ser, ou não, real. Talvez por questões logísticas falta o único cadáver que realmente é anunciado na peça, o de uma bebé. A abordagem do texto é por isso “burguesa” não corre riscos e a leitura do texto, tal qual peça radiofónica, também perde por isso. Os actores fazem pouco esforço e não vão muito além daquilo que se espera de uma leitura de ensaio teatral apenas com pequenas nuances de inflexão de voz, pronúncias risíveis, pouco eficazes; como consequência o espectador, que já se encontra distraído pelo apelo dos objectos em cena, não consegue distinguir o que realmente é importante porque essa leitura e encenação em nada os auxilia a focar no, que poderá ser visto como, essencial. Isto acontece na segunda parte que se prolonga demasiado tempo nestas condições precárias para os espectadores e onde se corre o risco de os perder ou no final ou início desta leitura radiofónica da peça.
A primeira parte está mais bem conseguida em termos dramáticos, embora o texto também não seja apresentado de um modo convencional encontra-se mais trabalhado e bem assimilado pelos actores. Depois de Pedro Almodóvar não é fácil a um encenador encontrar uma perspectiva nova sobre este tipo de personagens e até o texto, que precede o trabalho deste realizador espanhol, corre o risco de parecer envelhecido precocemente quando visto por um espectador atento ao que o rodeia. Se no tempo de Copi colocar em cena este exótico conjunto de personagens em palco poderia ser visto como uma provocação, hoje em dia ao recriar este texto há que tentar ir um pouco mais além e dar uma nova dimensão a esse choque em potencial que ainda é, de certo modo, a força motriz desta estimulante peça de teatro. No entanto o trabalho final resulta rigoroso e dramaticamente correcto naquilo que é essencial mas falta-lhe um elemento de edginess que o catapultaria para uma visão mais distante da miopia burguesa que o texto pretende ajudar a sacudir da sociedade contemporânea.
Para ver na Culturgest até ao próximo dia 14.

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