A língua inglesa para além do mérito de ter evoluído sustentada pelo talento de nomes como Shakespeare ou James Joyce permite condensar ideias, por vezes complexas, através do uso de duas ou três palavras. Um desses exemplos é a expressão Dumb It Down que embora traduzível expressa melhor o que quer dizer na sua língua mãe.
Didé o que está a acontecer com a Educação em Portugal e desenganem-se aqueles que pensam que este é um fenómeno que só passa pelo ensino básico ou secundário, a universidade já se encontra contaminada com esta ideia, muito mais depois de se estarem a tornar, cada vez mais, empresas cujos clientes são os alunos que pagam não para aprender mas sim para concluir os cursos depressa e com elevadas notas. Assim há a garantia de se ter clientes muito satisfeitos com os serviços e empresas que funcionam melhor porque bem oleadas pelo fluxo contínuo de dinheiro, que o estado se vai demitindo, de ano lectivo em ano lectivo, de facultar. Este é um processo que se encontra em desenvolvimento mas que ainda não está na ordem do dia porque longe dos holofotes do “marketing” político. Agora o que anda para aí na boca do mundo é o tão famoso computador para crianças, Magalhães; a existência deste computador barato ou grátis, conforme o suporte económico da família da criança que a ele vai ter direito, é justificada pelo nosso PM como fazendo parte do apregoado “choque tecnológico” que teve início com acesso a computadores mais baratos por parte dos alunos do secundário e agora passa a ser mais abrangente servindo também alunos do primeiro ciclo. Para quando os computadores para os jardins-de-infância? Será legítimo perguntar, se não parecesse tão absurda tanto a pergunta como a resposta. Mas não esqueçamos que absurda também pode parecer a entrega de computadores a todos os alunos do ensino básico, pelo menos nos moldes em que se a quer implementar.
Que ganho efectivo têm os alunos em tão tenra idade ao adquirirem e poderem manusear um computador? Acesso e evolução mais rápida às chamadas novas tecnologias, sem dúvida, mas de que servirá isso se a maioria dos pais e professores são quase analfabetos no que diz respeito a estas máquinas? O computador pode ser usado como complemento na aprendizagem em tenra idade mas não se deve cair na ilusão de que vai solucionar os problemas mais prementes do ensino nos dias de hoje. E esses problemas passam por coisas tão fundamentais como programas de ensino tão voláteis como as ideais dos burocratas de passagem, ao longo dos anos, pelos vários Ministérios da Educação e que na sua maioria são pessoas, não digo que mal intencionadas, mas que há muito se encontram afastadas da realidade do ensino. Outros problemas há muito detectados são a indisciplina, a desmotivação (tanto do professor como do aluno), a intromissão pouco construtiva das associações de pais, a falta de uma linha condutora que percorra todos os níveis de ensino sem permitir uma descontinuidade na qualidade do mesmo, a ausência quase total de disciplinas de cariz profissional ou artístico, mais recentemente o laxismo na avaliação rigorosa dos alunos através de exames de conteúdo desajustado, o desaparecimento de disciplinas fundamentais tal como a Química do 12º Ano que ao deixar de ser obrigatória passou a ser preterida por outras mais fáceis e que dão melhor resultado, i.e., notas mais altas. Estes são alguns exemplos que infelizmente não surgem isolados, aparecendo muitas vezes acompanhados de outros que se propagam pelo tecido escolar e por associação a órgãos sociais vitais para a um funcionamento saudável da nossa sociedade civil.
A solução agora apresentada, uma criança = um Magalhães, não é uma equação tão simples como o PM nos quer fazer crer e este sinal de igualdade pode vir a revela-se como contendo ainda mais assimetrias do que aquelas que pretende resolver. Esta “igualdade” vai trazer mais dispersão nas aulas, potenciar a criação de um fosso tanto em casa como na escola, porque uma coisa é explicarem às criancinhas que 2 + 2 são quatro outra será explicar o uso correcto da Internet e controlá-lo de um modo eficiente, não se percebe esta urgência em criar indivíduos tecnologicamente evoluídos sem qualquer preocupação em corrigir outro tipo de analfabetismo que grassa na nossa sociedade e que todos sabemos não passa só por não se saber ler, e que toma forma, por exemplo, nas audiências assustadoras de telenovelas da TVI, nas plateias vazias dos teatros, nas listas de bestseller das livrarias, na propagação exponencial de centros comerciais ou no culto da personalidade exacerbado pelas revistas cor de rosa.
Smart it Up, please, antes que seja tarde demais!
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