sexta-feira, 1 de agosto de 2008

to balter or not to balter


Alguns críticos em Portugal continuam reféns fáceis do seu provincianismo e é curioso constatar que a sua manipulação até é fácil bastando acenar-lhes com umas referências de alta cultura, um requiemzito de Mozart ou falar em Bach e quase imediatamente se deixam conquistar; se para além disso são abordados assuntos sensíveis como a condição da mulher e da descoberta de que afinal elas até são seres fantásticos (mais do que os homens...complexo de feminista requentada vivido por um jovem escritor com problemas capilares), se para além disso também se falar do Portugal profundo, de preferência sem nunca o ter vivido, à distância folclórica de um olhar paternalista, estamos sem dúvida perante uma “obra-prima” da ficção portuguesa contemporânea. Acrescentando a tudo isso uma suposta nova forma de escrever, sempre em minúsculas (ignorando e.e.cummings, escritor obviamente inexistente e talvez menor não por causa das minúsculas), mas ainda com pontos e vírgulas para que se atinja uma leitura “sem travões”, explicação e recado dado, pelo autor, aos leitores “preguiçosos” que devem insistir porque se o fizerem há-de valer a pena; afinal o paternalismo por vezes sai do livro para atingir na cara o leitor mais desprevenido, qual bofetada de luvas pretas, porque de brancas não pode com toda a certeza ser.
Para além das minúsculas, que já são imitação (mas em arte o que não o é?) temos uma prosa de retalhos que é uma espécie de imitação da imitação disfarçada de fraco exercício de estilo literário e que resulta em algo sem espinha dorsal, esconderijo fácil para a ausência de talento.
Estou a falar de um livro, o apocalipse dos trabalhadores, editado há pouco e cujo autor, advogado e mestre valter hugo mãe, faz capa do “Ípsilon” desta semana. A entrevista está à altura do objecto entrevistado e a crítica que se segue também, mas eu não consigo ficar indiferente a esta vassalagem perante o medíocre e da qual se vai alimentado o nosso mundo literário. A quasí é (foi?) sem dúvida uma editora de referência mas isso não faz dos seus editores bons escritores, e os escaparates das livrarias já se encontram feridos de morte com tanto lixo, por isso deixem lá esses livros nas gavetas porque hão-de ser mais úteis para alimentar e perpetuar muitas gerações de traças ou, para ser mais moderno, ficarem para ocupar alguns bites na memória esquecida dos computadores pessoais.
De qualquer modo a ocupar este espaço, herdeiro de Saramago, já temos o José Luís Peixoto, Senhor (maiúscula bem merecida) de uma escrita muito superior porque lhe nasce das entranhas e que nunca precisou de justificar a sua existência através do recurso a artifícios literários e intelectuais de fraca inspiração.

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