Nós somos aquilo que lemos ou procuramos nos livros aquilo que somos? Talvez não tenhamos que escolher entre estas duas opções e as possamos tornar inclusivas. Edmund White não é um escritor de romances que eu tenha vontade de ler mas o mesmo não posso dizer das biografias que ele tem escrito, aquela que será a sua Opus Magnum, sobre o escritor Jean Genet, as mini biografias de Marcel Proust ou de Rimbaud e ainda aquela que é um guia, e porque não também uma biografia, pouco ortodoxo que nos poderá acompanhar numa visita à cidade de Paris, The Flâneur. Existe ainda a autobiografia, My lifes, da qual o seu último livro “The Unpunished Vice – a Life of Reading” é o posfácio perfeito. Neste livro Edmund White apresenta-nos o seu percurso de leitor, desde a altura em que se tornou um leitor obsessivo até ao presente e leva-nos por corredores de bibliotecas desconhecidas onde se escondem alguns segredos literários, mais ou menos bem guardados. Por vezes o estilo torna-se demasiado académico e preso numa engrenagem pesada, típica de quem frequenta há demasiado tempo o meio académico e precisa de justificar algumas das suas predileções literárias com o aparecimento de frases e citações de textos, à semelhança de um bom artigo científico. Por aí a leitura do livro não me agrada mas existem momentos, felizmente muitos, em que o escritor deixa de pensar nos seus colegas académicos, ou nos seus alunos de escrita criativa, conseguindo cativar-me como leitor ao ponto de interromper a leitura do seu livro e fazer-me ir procurar os nomes dos autores de que fala, para que eu os possa acrescentar à minha lista de livros que vou adquirir na minha próxima visita a uma qualquer livraria virtual ou real.
Há momentos em que eu também não consigo distinguir entre o aparecimento de um nome de um escritor como sendo um favor daqueles que são comuns entre mestres do mesmo oficio ou uma referência literária genuína que nada deverá a esse tipo de favores, por essa razão talvez esteja a ser afastado de alguma grande obra literária que só pelo modo e tom com que me é apresentada me deixa sem vontade de a ler. No entanto, num ou outro paragrafo, é despertada a minha curiosidade e só por isso vale a pena ler este livro, porque potencialmente me levará a procurar, e encontrar, autores que nunca li ou que desconhecia totalmente.
É um livro que no seu melhor se transforma num diálogo franco com o seu leitor e lhe desperta a curiosidade, como se estivéssemos numa das suas aulas de escrita criativa em Princeton, mas sem sofrer dos constrangimentos físicos, e psicológicos, inerentes a ter que manifestar o desagrado por algumas passagens mais narcisistas que apontam sempre na direção da construção de um mito de pés de barro ou de um deixar cair de nomes literários que parece não ser mais que favores entre pares.
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