sexta-feira, 14 de novembro de 2008
Audiências
Se houvesse Broadway ou West End em Portugal onde os poderíamos situar? Algures entre o teatro Mundial e o da Trindade passando pelo Politeama e por vezes até pelo Nacional, seria no entanto um “bairro” de teatro demasiado abrangente em termos geográficos; para além desse fosso cartográfico seria possível detectar outra diferença, talvez mais importante, a qualidade dos espectáculos que embora não seja uma garantia em termos absolutos, quando se fala dos bairros teatrais londrinos ou nova-iorquinos, no caso dos espectáculos que passam pelas referidas salas portuguesas podemos afirmar, sem grande margem de erro, que qualidade é algo ausente na maioria dos casos e exemplos não faltam, a juntar a esse rol podemos agora adicionar o espectáculo que se encontra em cena no Teatro da Trindade “Boa Noite Mãe” de Marsha Norman com encenação de Celso Cleto.
Desconfia-se que este espectáculo não passa de um veículo para preencher o curriculum de uma actriz que ficou conhecida por fazer novelas da TVI, Sofia Alves, e nele só existe um elemento que se salva, a personagem construída pela actriz Manuela Maria, tudo o resto encontra-se ao nível do medíocre desde a encenação, aos figurinos e cenário, tudo respira preguiça de ideias e conteúdos e nem o facto da peça ser um prémio Pullitzer a resgata de tanta falta de talento concentrado no mesmo espaço e tempo. Apesar de tudo é-nos dado perceber que até seria possível sustentar o espectáculo se estivéssemos na presença de duas actrizes de talento comparável, infelizmente é aí que o desequilíbrio mais se faz sentir. Sofia Alves que tinha entre mãos a monumental tarefa de construir uma personagem complexa em termos psicológicos, a qual nos anuncia desde o início da peça que se vai suicidar, resolveu este problema, que seria um dilema para qualquer actor, através do uso de uma expressão facial única, um esgar que para infelicidade dela se pode associar muito facilmente a um pensamento do tipo “não devia ter feito chichi nas cuecas e se sou descoberta a mamã vai-me bater” com a agravante de juntar a essa expressão facial imutável, resultante da triste ideia que a senhora tem sobre o que é representar, temos ainda um texto gritado monocordicamente ou, para lhe fazer alguma justiça, gritado ao ritmo de uma lenga-lenga que ao fim de dez minutos seria o suficiente para fazer sair da sala qualquer pessoa que preze a sua sanidade mental; felizmente para nós está por lá a Manuela Maria para nos brindar com excelentes exemplos de como é representar, exemplos que se tornam ainda mais óbvios quando em contraste com aquilo que nunca deveria ser representar.
Espectáculo de fugir mas como em palco até podemos encontrar um trabalho rigoroso e notável da actriz Manuela Maria, talvez se deva fazer o sacrifico de ficar até ao fim, quanto mais não seja porque no final também somos brindados com um momento de humor negro acessível apenas a alguns, isto porque passadas quase duas horas, de uma espécie de tortura, nada melhor para terminar esse pesadelo teatral do que fechar a personagem da Sofia Alves no quarto e deixar que ela se suicide, para grande alívio dos nossos olhos e ouvidos.
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