quinta-feira, 10 de dezembro de 2020
terça-feira, 8 de dezembro de 2020
American Democracy
Quando se mudou para a Casa Branca ainda em contrução, John Adams, o 2.º presidente dos Estados (na altura, quase todos) Unidos escreveu "I pray to Heaven to bestow the best Blessings on this House and all that shall hereafter inhabit it. May none but honest and wise men ever rule beneath this roof." Oração que nem sempre foi atendida mas que nunca esteve tão longe de ser concretizada como nestes últimos quatro anos em que o Trump a habitou.
Foi no entanto nos livros que encontrei o verdadeiro gosto pelo cineasta nova-iorquino lendo os seus textos e as suas peças de teatro. Agora regressei à sua leitura e mergulhei na sua autobiografia publicada este ano e foi reconfortante perceber que foi através da escrita que ele começou e que é como escritor que ele quer ser recordado. Claro que esse desejo de eternidade é temperado com algum cinismo porque estamos sempre a ser recordados que até os verdadeiros grandes génios da humanidade, de entre os quais ele nunca se considera, um dia destes vão ser esquecidos porque nada neste universo é eterno e nós humildes criaturas que o habitamos há tão pouco tempo, ainda mais frágeis candidatos a qualquer espécie de eternidade havemos de ser. Até lá que isso não nos impeça de apreciar o verdadeiro génio quando com ele nos encontramos, salvaguardando sempre que o gosto pelo trabalho de um génio é sempre discutível e muito pessoal.
Esta autobiografia leva-nos desde um bairro de Brooklyn nos anos 30 habitado por família judia da classe média baixa até a uma Penthhouse na 5.ª avenida nos anos 70 habitada por um solteirão namoradeiro que se casou apenas duas vezes, uma primeira sem grande sucesso com uma atriz, Louise Lasser, e uns anos mais tarde com Soon-Yi, casamento que dura até aos dias desde hoje e que se mantém bem e de saúde desde os finais dos anos 90. Está escrita no tom ao qual já nos habituámos, humor neurótico e inteligente, que não sendo uma apologia deve ser lido como um ajuste de contas com o destino, com a sagacidade que os anos lhe conferem e a humildade genuína de quem sabe ser mais do que os outros julgam mas, sempre um pouvo menos do que levamos os outros a crer.
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