Há umas semanas fui ao Teatro ver uma peça premiada de um jovem autor português, “A Minha Mulher” de José Maria Vieira Mendes,
e saí de lá com a sensação de que só a juventude do autor pode atenuar tamanha desilusão. Sem dúvida que a peça se insere na tradição teatral portuguesa pois é uma farsa ao bom estilo Vincentino com personagens fantoche que não possuem qualquer profundidade psicológica. A ambição do autor é desmedida mas poucas vezes está à altura do sujeito, que neste caso parece ser o nosso país. Quer falar de tudo e acaba a falar de nada, essencialmente porque são colocadas em palco caricaturas grotescas, sem qualquer espessura dramática, que nos brindam, a maior parte do tempo, com ditos populares, ou distorção dos mesmos, pontuados com os já indispensáveis “foda-se” e “filho da puta”, sinónimo óbvio de modernidade. Se para além disso retirássemos do texto a palavra “vinho” teríamos uma peça reduzida a metade do tempo de representação, tempo suficiente para o transplante hepático ao qual todas as personagens deveriam ser sujeitas no final da peça. O espectáculo é resgatado pelos actores que fazem um trabalho exemplar e que conseguem, no intervalo das palavras, trazer à cena a carga psicológica e dramática que se espera de uma peça de teatro com a ambição gorada desta.
sábado, 10 de novembro de 2007
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