sábado, 10 de novembro de 2007

Cirrosis (Not By Sarah Kane)

Há umas semanas fui ao Teatro ver uma peça premiada de um jovem autor português, “A Minha Mulher” de José Maria Vieira Mendes,



e saí de lá com a sensação de que só a juventude do autor pode atenuar tamanha desilusão. Sem dúvida que a peça se insere na tradição teatral portuguesa pois é uma farsa ao bom estilo Vincentino com personagens fantoche que não possuem qualquer profundidade psicológica. A ambição do autor é desmedida mas poucas vezes está à altura do sujeito, que neste caso parece ser o nosso país. Quer falar de tudo e acaba a falar de nada, essencialmente porque são colocadas em palco caricaturas grotescas, sem qualquer espessura dramática, que nos brindam, a maior parte do tempo, com ditos populares, ou distorção dos mesmos, pontuados com os já indispensáveis “foda-se” e “filho da puta”, sinónimo óbvio de modernidade. Se para além disso retirássemos do texto a palavra “vinho” teríamos uma peça reduzida a metade do tempo de representação, tempo suficiente para o transplante hepático ao qual todas as personagens deveriam ser sujeitas no final da peça. O espectáculo é resgatado pelos actores que fazem um trabalho exemplar e que conseguem, no intervalo das palavras, trazer à cena a carga psicológica e dramática que se espera de uma peça de teatro com a ambição gorada desta.

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