sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

The 7th Seal

A ronda da morte não dá tréguas mas nessas voltas não lhe consigo perdoar o gesto de colher pessoas como o Olímpio. A última vez que o vi foi na FNAC do Chiado e a Mariana estava grávida do primeiro filho, eu tinha acabado de regressar de Londres e ainda estava desajustado desta realidade, e por isso foi muito bom cruzar-me com duas pessoas que já não via há alguns anos e de quem guardava uma boa memória. A Mariana voltei a encontrar no Metro, estava ela já grávida do segundo filho e eu com o meu humor peculiar lá fiz uma piada, sem muita graça, “não seria eu o deus da fertilidade porque só nos cruzávamos quando ela estava grávida.” Agora soube da morte do Olímpio pelo jornal, e ficou-me este chumbo no peito. Perdeu-se alguém que amava os livros como cada vez menos se ama e isso só serve para nos empobrecer. Perdeu-se alguém demasiado precioso para este país, não poucas vezes tão ingrato como a morte. Mas acima de tudo perdeu-se o pai dos filhos que só vi na barriga da Mariana e os quais ele tinha o direito de ver crescer com a mesma ternura e emoção com que cuidava da palavra impressa.

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