domingo, 10 de fevereiro de 2008

Oscar It! but it won't make it any better...


O tema da inocência que perversamente pode ser um instrumento ao serviço do mal é sem dúvida fascinante. Neste caso temos Briony uma pré-adolescente com uma imaginação muito fértil e acesso a elementos ainda fora do seu alcance de compreensão mas que ao mesmo tempo se julga suficiente adulta para julgar e condenar prontamente os outros. Briony é uma criação do escritor Ian McEwan e é uma herdeira directa das personagens que habitam os romances de Jane Austen tal como é insinuado na citação que nos surge antes do início do romance. Neste filme, Expiação, ela encontra-se decalcada fielmente, aliás como todas as outras personagens e situações imaginadas pelo escritor. A adaptação de Christopher Hampton é perfeita, para alguns demasiado perfeita porque deixa pouco espaço à imaginação cinematográfica. Quem leu o livro não vai ficar desapontado a não ser que não tenha gostado muito do livro e nesse caso não é o objecto filmico que está em causa mas o objecto literário, até porque o primeiro é uma cópia quase exacta do segundo. A escrita de McEwan nunca se distância muito daquilo que é um romance, infelizmente não na tradição de Jane Austen, mas na tradição de Barbara Cartland, claro que com alguma pretensão intelectual. E nem o twist final acrescenta muito à dimensão dramática da estória que, embora possa ser surpreendente em retrospectiva, vem a revelar-se como uma muito fraca forma de expiação, isto porque não existe nenhuma forma de auto comiseração, nem a literária, ainda por cima apresentada deste modo, que sirva esse propósito quando o que está em causa é a vida de um ser humano. Na minha opinião Ian McEwan deve ser um dos escritores mais sobrevalorizados da sua geração, que publica regularmente e é muito popular nos países anglo-saxónicos e mesmo em Portugal, mas a sua escrita é pastosa, pesada, nunca levanta voo e encontra-se presa ao que de pior existe na tradição inglesa, não passando, na maioria das vezes, de um pastiche pouco conseguido da melhor tradição da escrita que tem tido origem nas ilhas britânicas.
Por isso o filme sofre do mesmo mal do livro tornando-se assim num objecto feito à medida dos leitores, ou potenciais leitores, do escritor mas que não irá muito mais longe independentemente da competência técnica e criativa das pessoas envolvidas na sua realização.

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